Alta de juros e insumos preocupa construção civil

Inflação registrada para materiais e equipamentos ficou em 51,21% em dois anos

O aumento dos juros e a alta no preço dos insumos têm preocupado empresários de toda a cadeia da construção civil. Tanto construtores quanto corretores estão em alerta com o crescente impacto dos valores incluindo a taxa básica de juros, Selic, que deve subir em mais 1% nesta semana.

A arrecadação municipal com o Imposto Sobre Transmissão de Bens (ITBI) já aponta uma leve retração em Campo Grande. O imposto municipal deve ser pago sempre que ocorre compra, venda ou transferência do imóvel para o nome de outra pessoa.

Nos dois primeiros meses do ano passado, a prefeitura da Capital arrecadou R$ 13,520 milhões com a taxa, já no mesmo período em 2022 foram R$ 13,484 milhões, ou R$ 36,489 mil a menos.

O presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Geraldo Paiva, avalia que, com a pandemia, a baixa dos juros no mercado e a baixa inflação, o mercado ficou atraente para compra e venda de imóveis.

“O mercado voltou a aquecer e se preparou para grandes lançamentos em 2022 e 2023 por causa deste cenário. Mas se a economia não está pujante as pessoas não compram tanto, então pode haver falta de estímulos para novos lançamentos. Nossa preocupação é o que virá a ser lançado”, analisa.

Paiva ainda ressalta que quem comprou em 2021 fez um excelente negócio. “O mesmo imóvel [negociado no início de 2021] comprado hoje estaria 30% mais caro”.

SELIC

Outra mudança que preocupa o segmento é o aumento dos juros. A Selic saiu de 2% ao ano em janeiro de 2021 para 11,75% ao ano em março passado, foram nove aumentos consecutivos promovidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.

Na reunião que ocorre entre hoje e amanhã, o cenário aponta para uma nova alta de um ponto porcentual, elevando a Selic a 12,75%. Por ser o juro básico da economia, a tendência é de que com a Selic todas as outras taxas subam, como as de financiamento imobiliário.

Até o fim do ano, a taxa deve atingir 13,25%, conforme o mercado financeiro.

Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis 14ª Região (Creci-MS), Eli Rodrigues, todo aumento de taxa Selic traz um desconforto para quem busca crédito em qualquer segmento.

“O mercado imobiliário também não é diferente, até porque os valores sempre são altos, e isso requer que o comprador tenha uma renda maior para poder comprar o mesmo imóvel que seria adquirido com uma renda menor. Mas sempre tem agente financeiro que opera com uma taxa menor, ou seja, sempre tem algum agente financeiro em busca de clientes que, além dos financiamentos habitacionais, tenha outros tipos de negócios com os bancos”.

“Outro fator importante é que os juros não deverão acompanhar a velocidade dos aumentos e também não vão subir no nível da Selic, da mesma forma que não desceram muito, quando a taxa básica estava em 2%. Como eu sempre digo, ainda o crédito imobiliário sempre será o mais acessível que tem”, ressalta Rodrigues.

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Os principais aumentos foram registrados em condutores elétricos (91,9%) e em tubos e conexões de PVC (91,8%) – Marcelo Victor
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INSUMOS

O aumento dos preços de insumos é o que mais tem preocupado empresários da construção civil. Segundo levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o problema foi mencionado por 46,7% dos empresários do setor. É o porcentual mais alto registrado desde o primeiro trimestre de 2015.

Ainda segundo o levantamento, há sete trimestres consecutivos o alto custo dos insumos vem sendo apontado como o principal problema do setor.

Com base no Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), a Cbic informou que a inflação registrada para materiais e equipamentos usados pelo setor ficou em 51,21% entre janeiro de 2020 e março de 2022.

Os principais aumentos foram registrados em condutores elétricos (91,9%), tubos e conexões de PVC (91,8%), vergalhões e arames de aço ao carbono (81,5%) e eletroduto de PVC (70,8%).

O presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi Dalastra, pontua que o setor da construção civil vê esses impactos como muito temerários, principalmente pelo reflexo no valor dos imóveis.

“Uma casa popular que há dois anos era vendida a R$ 135 mil hoje é comercializada a R$ 185 mil. Então, nosso setor vê isso com muita cautela e preocupação. Atrelado a isso, nós também tivemos o aumento dos juros, que é um impacto significativo na parcela da população que adquire os imóveis. E com o aumento do imóvel também tem alta na entrada do imóvel, que é de 20% do valor total e é um agravante na aquisição”, destaca.

Dalastra diz que ainda há um “respiro”, porque as obras entregues neste momento não incluem todo o impacto da alta de preços.

“Os imóveis que foram construídos com esses custos novos estão entrando no mercado agora. A gente precisa ver se a população vai ter condição de adquirir esses imóveis, uma vez que o salário mínimo aumentou apenas 10%”, destaca.

IMPACTO

O segundo vice-presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul (Sinduscon-MS), Amarildo Miranda Melo, pondera que a situação do setor no Estado é um pouco melhor que para o resto do País.

“A construção civil vive um momento médio, não está aquecida, mas o que ela reflete é a insegurança política. A pandemia atrapalhou muito a cadeia produtiva. Não estamos pessimistas, mas receosos, vamos crescer mais que o Brasil, que deve crescer 1,5%”.

“No nacional, [o setor] deve subir até 5%, para MS vamos chegar a 6%. Isso porque temos uma realidade um pouco diferente do resto do País, o agro forte nos empurra nesse sentido”, estima Melo.

O presidente do Creci ainda explica que as altas dos insumos e a valorização dos terrenos aos poucos serão repassados para o preço final dos imóveis.

“Já passamos por situações parecidas com esta, e o mercado conseguiu sobreviver, pois os empreendedores sempre participam da negociação, trazendo outras opções de pagamentos”, finaliza Rodrigues.

46,7% dos empresários

O aumento dos preços de insumos é o que mais tem preocupado 46,7% dos empresários da construção civil. O porcentual mais alto desde 2015. 

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